Nostalgia é uma forma de melancolia profunda e geralmente acomete quem passou a conviver com um sentimento de perda muito grande.

Esta narrativa do Jamil Moysés fala muito de perto à minha mente e ao meu coração. Porque, ainda menino, sempre passava ali em frente do Bar Vitória que era caminho para ir ao serviço do meu pai. Esses personagens citados e tantos outros, povoavam o seu interior e se bobeassem poderiam até ser tombados como ativo fixo do estabelecimento, tamanha a assiduidade.

Na minha imaginação de criança, era como se morassem ali, pois o bar estava sempre cheio dessas pessoas com suas conversas acaloradas. Lembro de muitos que ele citou, de praticamente todos, figuras veneráveis na cidade. Eram adultos que tinham grande respeitabilidade e afirmação.

E ali discutiam política; faziam apostas de futebol; negociavam carros, terrenos e gado… Acho mesmo que o Bar Vitória era um símbolo de Cachoeiro, como o Itabira e o Rio Itapemirim, e que o que acontecia e não acontecia em Cachoeiro dependia do que se tratava ali.

No entanto, fruto da inexorabilidade do tempo, o Bar Vitória fechou e quem viu, viu e quem não viu não pode imaginar o simbolismo que ele exercia na vida do cachoeirense da época.

Ele ficou no meu DNA e não sai por nada…


BAR VITÓRIA
por Jamil Moysés

 O Bar Vitória fechou. Foi a notícia mais importante que circulou em nossa cidade em julho de 1975. Daí me deu uma vontade louca de escrever alguma coisa para marcar a sua trajetória de mais de 30 anos. Volto ao passado e encontro o velho Edmundo Remos, o primeiro proprietário do Bar Vitória.

Ficava ali onde está atualmente o Restaurante Belas Artes. Na frente o bar e atrás o bilhar francês. Quantos fatos de repercussão política e esportiva aconteceram ali. Cada vitória do Estrela ou do Cachoeiro era comemorada com bandeiras, fogos e bebidas. Seu Edmundo morreu. O Bar Vitória fechava.

Esta imagem antiga da praça jerônimo monteiro é contemporânea do bar vitória. Como pesquisamos e não conseguimos imagem do bar em si, pedimos aos leitores que considerem que ele ficava inserido nesse contexto, bem próximo de onde hoje está situada a ponte.

Mas como ficar sem aquele tradicional estabelecimento?

Toninho, um dos frequentadores do bar, zanga e consegue outro ponto na Praça Jerônimo Monteiro e novamente instala o Bar Vitória. Ficava ali onde está a Casa Dadalto. Foi uma alegria total. Foi no tempo do Toninho que o saudoso Quincas Leão entrou com o seu carro dentro do bar.

O Toninho não perdeu a calma e mandou confeccionar uma taboleta com os seguintes dizeres: É PROIBIDO ESTACIONAMENTO DE CARRO DENTRO DO MEU BAR, PRINCIPALMENTE DE BARBEIRO.

Fecham novamente o bar. Novamente ele é aberto, agora em outro lugar, ali onde hoje, está a ponte da praça. O Bar Vitória acabou fechando em definitivo as suas portas.

Confesso que, quando vi as suas portas cerradas, me deu vontade de gritar: Ilton, Paulo Casoti, Iercem,  Gildo, Mário Valão, Marlim, Toninho Melo, Gerson Moura, Gilson Carone, Guga, onde estão vocês? Como é que vai ser daqui pra frente? Por que vocês permitiram isso?

O Bar Vitória não podia morrer. Ele faz parte da nossa vida, da nossa infância, das nossas tradições. Sinto-me como uma criança perdida e sem o seu brinquedo predileto.

Meu consolo é que no seu último dia de funcionamento o Toninho Melo, juntamente com o Dr. Fontenelle, reuniu um grupo com violões entoaram músicas alegres e contagiantes, num grito de esperança de que num futuro bem próximo surja um lugar ali mesmo na Praça para novamente se reerguer o Bar Vitória.

Eu sei qual o principal causador do fechamento do Bar Vitória: é o tal PROGRESSO que invade as pequenas cidades…

Compartilhe

8 comentários sobre “Relembrando o Bar Vitória

  1. Achei excelente o artigo do Jamil Moisés. Lembro do bar Vitória quando os fazendeiros voltavam de suas propriedades e se reuniem ali.
    Mandei a cópia deste artigo para meu primo Murilo Saade. Porque seu pai Chafic sempre me contava que toda vez que ia a Cachoeiro seu lugar preferido era o Bar Vitória.
    Na minha geração a saudade ainda é do bar Alasca que também acabou.

  2. Eu também era criança, me lembro claramente do bar VITORIA. Acho que adentrei ao recinto pouquissimas vez em companhia de meu avó J. Vianna para ele encontrar amigos e bebericar uma cerveja. Me lembro que haviam uns espaço reservados com meia porta tipo faroeste onde se conversavam e negociavam tudo. Parabéns ao autor do texto. Abraço

  3. Na minha época de adolescente o Bar Vitória era onde hoje é a Casas Dadalto, lembro muito até de alguns frequentadores como Sr. Hilton Machado e seus irmãos Gildo e Ierce, Peninha, Sr. Gerson Moura, Dr. Paulo Casório entre outros,lembro do pastel de carne moída delicioso. Mas a lembrança maior era qdo íamos para Marataizes meu pai (Carlinhos Silva) parava o carro em frente ao Hotel Toledo e ia comprar cigarros e lá encontrava vários amigos e conversa com um e com outro esquecia da gente dentro do carro naquele calor danado. Minha madastra (Dady Pena) que faleceu hoje aos 95 anos, ficava uma fera. Tempo bom que não volta mais.

  4. Achei excelente o artigo do Jamil Moisés. Lembro do bar Vitória quando os fazendeiros voltavam de suas propriedades e se reuniem ali. Mandei a cópia deste artigo para meu primo Murilo Saade. Porque seu pai Chafic sempre me contava que toda vez que ia a Cachoeiro seu lugar preferido era o Bar Vitória. Na minha geração a saudade ainda é do bar Alasca que também acabou.

  5. O Bar Vitória, onde reunia principalmente os “boiadeiros”, designação dada aos que hoje chamados, pecuaristas. Lembro que perto do meio fio da calçada, existia argolas para amarrar o cabresto do animal.
    Fato interessante, foi quando em uma roda de amigos, dentro do Bar Vitória, conversa vai conversa vem, num determinado assunto um fala que pior foi Nero que mandou matar a mãe dele. Neste momento, todo espantado, levanta de sua cadeira, o “boiadeiro “, Gilberto Domingues, que foi um dos grandes fornecedores de leitão à Selita, ajeita a calça, bate na mesa e pergunta: “Nero Boreli teve coragem de fazer isso com a mãe dele?”

Deixe um comentário para Henrique Osvaldo Vivacqua Campos Cancelar resposta

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.