A maioria dos amigos da minha geração, até bem pouco tempo, resistia a usar até telefone celular.
Alguns apregoavam orgulhosamente: Computador (?) -Não sei nem ligar essa merda.
A necessidade de integração com o mundo virtual, no entanto , vem se modernizando naturalmente.

Através dos sobrinhos, netos e até bisnetos, os “velhinhos” aprenderam a entrar na internet pelo celular, entenderam mais ou menos como funciona o Zapp, e deslumbraram-se com um mundo de sacanagens, lirismo, gravuras de boas noites, bons dias, sermões religiosos e de auto ajuda.
E ingressaram galhardamente no universo virtual.


Outro dia um amigo ligou pedindo permissão para passar a me enviar mensagens. Claro que autorizei, tive um prazer enorme de falar com ele, batemos um papão e ele encerrou com essa pérola: Olha, só tem o seguinte, eu mando muitas mensagens diárias, tem problema?
Falei que não, mas ele acrescentou: “olha, são muitas MESMO !!!!!!
Pronto: daí em diante passaram a pipocar no meu Zapp mais de 30 mensagens por dia de santinhos e arranjos de flores. Fiquei até surpreso, pois esse amigo que foi um dos mais sacanas na juventude, tornou-se na velhice um dos mais – “piegas é xingamento ? – prolíficos cultivadores de flores internáuticas.
Outros só pensam NAQUILO, como diziam no programa do Chico Anísio.

Cada barbaridade, cenas filmadas nos ângulos mais insólitos, coisas impublicáveis que nem Carlos Zéfiro ousaria .

Aí outro dia minha mulher pega meu telefone e abre em uma dessas mensagens cabeludas. Por mais que me defendesse e culpasse o amigo tarado, mais ela me acusava. No final, ficou uma semana sem falar comigo, e até hoje não perdoou completamente o velhim saliente.
Bem, toda essa introdução malandra foi pra enaltecer mais uma vez a tecnologia, o modernismo, a facilidade cultural, a fartura artística que o Mundo Virtual e as geringonças mágicas nos proporcionam.

Sempre gostei muito de livros. Livros velhos empoeirados dos sebos, livros de bolso, livros de todos os assuntos. Cheguei até a montar um sebo em Cachoeiro que não foi pra frente por falta de dono.

Prescreveu em mim a vontade de ficar o dia inteiro a disposição do comércio, fazendo horários fixos que não
podem ser desrespeitados.
Os Livros ? Vão bem, obrigado, mas desde essa época migrei minhas leituras para o KINDLE.
Fiquei tão doido com a maquininha que só andava com ela no bolso traseiro.
Já quebrei duas, uma dei de presente e hoje estou na quarta. Parece até casamento.
A praticidade de poder levar uma biblioteca para todos os lugares, abrir um livro em qualquer situação, ler
durante as refeições, de luz apagada – a mais moderna já vem com luz interna – compensa o prazer que as pessoas tem
de folhear, cheirar e entortar um livro de papel.

O Kindle oferece o que hoje no futebol eles chamam de minutagem, que são os minutos que os jogadores
passam em campo.
Pois é, o Kindle me transformou em um cobra de permanência em campo.

Ah, ia esquecendo, quando voce termina um livro a Livraria do Amazon inteira se coloca a sua disposi-
ção oferecendo milhares de obras baseadas em sua leitura anterior.

Com um toque de botão a gente pode comprar, baixar na mesma hora, pagar em quantas vezes quiser,
sem frete e a um preço 50 por cento mais barato que o exemplar impresso.

Do mes passado para cá lí o Amoroso, de Zuza Homem de Melo sobre João Gilberto, o último
Zuenir Ventura, um de crônicas do Antonio Maria, e hoje estava me deliciando com um dos primeiros do
Raymond Chandler sobre o detetive Marlowe.

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