Quem passa ao longo da Praia Central de Marataízes se depara com a presença das famosas corujas-buraqueiras (Athene cunicularia) que são aves de rapina de pequeno porte, encontradas em quase todo o Brasil e também encontradas desde o Canadá, na América do Norte, até o extremo sul da América do Sul. São aves muito populares e abundantes no Brasil recebendo esse nome por cavar buracos no solo para fazer seus ninhos.

Beleza e expressão de personalidade da Athene cunicularia


A coruja-buraqueira costuma habitar locais como praias, restingas, campos, cerrados, pastos, planícies e terrenos baldios em áreas urbanas. Na busca de local para os ninhos, elas escolhem onde existe oferta abundante de alimento e áreas abertas com opções de poleiros que servem para vigilância contra predadores.

Em Marataízes a ONG Caminhadas e Trilhas – Preserve começou o “Projeto de proteção da coruja-buraqueira”, que tem como objetivo preservar e valorizar a fauna silvestre local, fazendo o mapeamento das aves, protegendo os ninhos através de cercamento que evita o pisoteio, e que está sendo um sucesso porque além de preservar as corujas também ajuda a preservar a restinga. Contando com apoio e participação da SEMMA – Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Marataízes, já são 12 ninhos cercados.
No local são colocadas placas indicativas da espécie, que orientam as pessoas informando que esta é uma ave nativa e protegida por lei.

A buraqueira parece estar nos
cobrando a preservação com seu olhar

“A Lei n° 9.605 de Crimes Ambientais em seu Artigo 29 diz: Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente é crime sujeito a detenção de seis meses a um ano, além de multa”.
Incorre nas mesmas penas (§1º):
– quem impede a procriação da fauna
– quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural

Os resultados são excelentes em termos de preservação da espécie e o projeto já foi alvo de trabalhos ambientais e consultas por Municípios vizinhos e outras entidades, incrementando até mesmo o turismo. Quando preservamos uma espécie todo um ecossistema agregado a ela é preservado.

Como predadora a coruja-buraqueira está no topo da cadeia alimentar e se alimentando de pequenos roedores e insetos ela ajuda no controle destes animais, que são nocivos à saúde das pessoas.

O Võo da coruja-buraqueira


A qualquer sinal de perigo, a coruja emite um som alto e estridente, que serve para alertar as demais corujas. Ao ouvirem o sinal, os filhotes correm para seus ninhos, enquanto os adultos costumam voar para áreas próximas e às vezes até atacar a ameaça. Os sons emitidos à noite são mais graves e indicam a demarcação do território, e também tem relação com o acasalamento.

A cor das corujas adultas é marrom, cor de terra, mais escura em cima, com o peito e a barriga na cor parda com traços cor de terra e suas sobrancelhas são brancas ou bege e seus grandes olhos são amarelos.
Normalmente, a coruja-buraqueira fêmea tem a plumagem mais escura do que o macho. Já o jovem, é bem similar em sua aparência, no entanto é mais gorducho e desengonçado, além de ter as penas desarrumadas.

A personagem Maratimba, no detalhe

A coruja-buraqueira tem a cabeça redonda e pernas longas. O macho mede entre 21,5 e 28,5 cm e a fêmea com um tamanho que varia entre 22 e 25 cm. O voo é bem suave e silencioso.

A visão da coruja-buraqueira é binocular, ou seja, a coruja enxerga um objeto com os dois olhos ao mesmo tempo, o que permite que sua visão seja em três dimensões. E como ela tem a capacidade de girar o pescoço em um ângulo de até 270º consegue uma excelente visão periférica.

Ela também possui uma ótima audição, conseguindo localizar sua presa com apenas este sentido, o que facilita e muito capturar uma presa mesmo com pouca luz. Elas vivem cerca de 25 anos.
A coruja-buraqueira parece estar plenamente integrada à ecologia urbana. São predadoras exemplares que saem para caçar no fim da tarde e início da noite, onde utilizam sua privilegiada audição. Até este momento os pais permanecem empoleirados próximos à toca.

São a espécie de coruja mais comum e conhecida no Brasil. Formam casais monogâmicos que reproduzem anualmente nos meses de março e abril. Nessa época, o casal se reveza no preparo do ninho. As corujas cavam com os pés e os bicos e os ninhos possuem em torno de 1,5 a 3 m de profundidade, sendo que o fundo do ninho é coberto com capim seco. O macho é responsável por proteger o ninho e procurar alimento para a fêmea e para os filhotes até estes abandonarem o ninho.

Um hábito comum a esta espécie, diferente de outras corujas, é o de ficar pousada durante o dia sempre sobre uma perna só. No caso de Marataízes ficam nas placas indicativas dos ninhos ou nos mourões do cercamento.

As corujas são animais de uma beleza diferente e expressiva. Os ninhos cercados viraram atração turística e elas posam para cliques dos observadores, merecendo reportagens na TV e na mídia em geral.

Imponente vigilante, nossa personagem posa sobre a placa do projeto dedicado à sua proteção

Em cidades que têm animais como referência, acontece a comercialização de lembranças com estampas desses animais como em Caravelas na Bahia, em relação às Baleias Jubarte, nos locais que têm o Projeto Tamar onde lembranças com imagens de tartarugas são comercializadas e também em outros lugares.
Caso Marataízes adote a coruja-buraqueira como “mascote”, poderá ser uma excelente opção de renda com venda de produtos com figuras de corujas, como camisetas, bonés, chapéus, bolas, canecas entre outros. Poderá haver estímulo para se ter também encontros científicos, estudos etc.
Por serem os ninhos em área urbana, poderão ser mais explorados no contexto do turismo familiar.

É muito importante que as pessoas compreendam a importância das espécies da nossa fauna e ajudem na sua preservação.

Fotos e texto, por Reynaldo Monteiro

Reynaldo Monteiro

é fotógrafo, músico, escritor e ambientalista
DIRETOR DA ONG CAMINHADAS E TRILHAS
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5 comentários sobre “Coruja-buraqueira, personagem Maratimba

  1. Reinaldo, belo texto explicativo da Coruja Buraqueira. Parabéns a Ong Caminhos e Trilhas pelo trabalho de preservação e educação das espécies.

  2. Gostei imensamente do texto. Fala sobre todos os aspectos, de maneira clara e precisa, e que muito colabora para uma boa consulta de pesquisa.

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