Domingos na AABB
Houve um tempo em que nas noites de sábado, depois da missa, experimentávamos as chuteiras com os meiões, compradas na Galeria Esportiva, para verificar se ainda estavam confortáveis, pois os pés – assim como todo o corpo – estavam em constante crescimento.
Preparávamos a mochila e deixávamos tudo pronto, pois no domingo às 7:00h já deveríamos estar no campo aquecendo para o grande e importante jogo da semana!
As 6:00h da manhã de domingo, entrávamos no quarto dos pais e sacudíamos aquele que, apesar de acordar cedo para trabalhar a semana toda, nos levaria para pisar o orvalho úmido das gramas da AABB, ao som dos teares serrando mármores, na Marbrasa.
Já fazíamos “coaching” nessa época. Sim, essa palavra da moda já era conhecida de todos em 1978, na AABB de Cachoeiro de Itapemirim. E nosso coach era ninguém menos que Acinor Fraga.
Pela manhã, ele pedia contas de nossos boletins escolares e perguntava quem tinha ido a missa, quem tinha obedecido os pais, quem estava se alimentando direito, porque “quem não come, não aguenta nem o primeiro tempo”
Passávamos então, à distribuição das camisas, dividindo os atletas em times por cores. Alguns eram amigos da escola, outros da rua Raulino de Oliveira. Outros, encontrávamos apenas na AABB mesmo, filhos de funcionários do Banco do Brasil, instituição que, na época, era muito mais que uma empresa, era um agregador de famílias, amado e respeitado por todos nós.
Ao final, ganhando ou perdendo, íamos para os “vestiários”, trocar o uniforme do time pela sunga para nos divertirmos na piscina do clube.
Entregávamos a bola a Derlan e íamos continuar nossa diversão em mergulhos , pulos acrobáticos na “piscina dos adultos”, entremeados por Coca-Colas com salgados feitos por Dona Dondoca, a maior quituteira da época em Cachoeiro e que fazia uma coxinha de frango deliciosa, com uma massa tão amarela como poucas que vi.
Uma visita ao lago das tartarugas era obrigatória também, embora todos soubéssemos que era proibido tocar nos animais.
A diversão se completava com as rodadas em torno da mesa de pingue pongue, com raquetes de madeira, pois raquete com borracha era um luxo. Ali, mesmo quando não fazia gol no campo, eu me garantia. Só não dava conta quando os mais velhos jogavam a bolinha pertinho da rede, pois não dava altura para pegar!
Ficávamos até 4 ou 5 horas da tarde e geralmente almoçávamos por lá. Salgados e refrigerantes que eram anotados em fichas e muitas vezes chegavam às dezenas.
Ao fim, felizes, íamos para casa, preparar as mochilas da escola e fazer algum dever de casa pendente para uma nova semana de estudos. Esperando, é claro, pelo próximo domingo!
E aqui estou eu, 40 anos depois, em um domingo como aqueles da década de 70, escrevendo entre lágrimas, na certeza de que a vida é bela, de que somos constituídos de histórias e, apenas vinculados a significados e relacionamentos verdadeiros, viveremos à altura da beleza que ela nos propõe. Bom domingo a todos, em especial aos meus irmãos de AABB. Ao mestre Acinor, uma oração, em saudade preenchida com doce presença, a presença dos que eternizam-se pelos valores que nos infundiu e por todo amor que nos dedicou