É de uma responsabilidade enorme esta tarefa que o amigo/ colunista Renato Magalhães, me concedeu.
Falar de meu saudoso pai, o Historiador Manoel Gonçalves Maciel e seu belo trabalho incansável do resgate da história de Cachoeiro. É voltar ao passado com muito orgulho.
Com certeza, a Revista Você+ vai apresentar aos seus leitores uma matéria fascinante sobre a construção da imponente Igreja de São Pedro, hoje Catedral de São Pedro.
Uma pesquisa minuciosa, com detalhes únicos, relatados pelo apaixonado Historiador, no qual eu,
como filha e sua incentivadora, autorizo a publicação na íntegra, extraída de seu livro “Voltando ao Cachoeiro Antigo” Volume II. Um presente pra você viajar no tempo!

A beleza imponente da Catedral de São Pedro, ícone arquitetônico de Cachoeiro.

O texto abaixo, em sua íntegra, é de autoria do historiador Manoel Gonçalves Maciel. Foi publicado na 1ª edição, Volume II, do livro “Voltando ao Cachoeiro Antigo”.

A reprodução desta narrativa foi autorizada pela filha do autor, Dra. Margaret Maciel Zampirolli, cirurgiã-dentista, que mora em Cachoeiro. Menina vizinha nossa e cuja amizade ficou consolidada quando a vimos crescer na Avenida Monte Castelo, próximo de onde fica hoje o Fórum da cidade. Representa especial orgulho para nós apresentar este trabalho, porque “seu” Manoelzinho, como era carinhosamente chamado por tantos quantos o conheciam, sempre foi um modelo a ser seguido.

Eis o texto original:
“No princípio do século passado, onde está o Mercado Municipal, existia a Igreja de São João, cujo terreno foi doação de Manoel Araújo Machado. Consta que essa igreja desabou. O padre José Bonifácio
Parense, em 27 de abril de 1918, em entendimento com o prefeito da cidade, Reynaldo Souto Machado conseguiu permutar, com o município, o terreno que vinha sendo ocupado por dita igreja, pela área de terra onde foi levantada a atual matriz de São Pedro, área esta avaliadaem 5.158 m2, conforme medição efetuada pelo agrimensor Orozimbo de Souza.

No dia 25 de julho de 1925, na passagem da festa de Santana, o vigário Florentino Garcia tentou dar início às obras para construção da matriz, mas não foi além dos primeiros passos, não se sabe por que, talvez por falta de recursos financeiros, lançou a pedra fundamental e desistiu do intento.

Em 1936, o padre José Gonçalves, reconhecendo a necessidade de construir a nova matriz, moveu uma forte campanha, porém, não foi bem sucedido. Em 16 de agosto de 1940, tendo à frente o padre José Garro, foi dado impulso aos preparativos da construção, inclusive, levou às mãos do prefeito Fernando de Abreu, para apreciação, o projeto da obra de autoria do engenheiro russo, Dr. Wlademiro Bogadanoff, no sentido de ser pleiteada a necessária colaboração. O prefeito, em consideração aos aspectos arquitetônicos bem imaginados e movido, também, pelo desejo de ver a cidade dotada de um templo condigno, deu todo o apoio.

Altar da Catedral de São Pedro, nos dias de hoje

Em seguida, foi constituída uma Comissão, com resolução de se interessar pelo assunto: Diretor – Padre
José Garro; Presidente – Fernando de Abreu; Secretário – Dr. João Gondin Fabrício; Tesoureiro – Pedro Cuevas Junior; Vogais – Átila Vivacqua e Assad Abiguenen.

No dia 2 de setembro de 1940, já existindo em caixa a quantia de Cr$ 600,00, obtidos de devotos, por intermédio de Cecília Dutra Lopes de Rezende, foi dado novo embalo às obras. A comissão, então criada,
recorreu às firmas comerciais e contratou o construtor Jaime Santos para dirigir os trabalhos, mediante a remuneração de Cr$ 600,00 mensais. Já estava ele na construção da cúpula do Presbitério, quando sofre um acidente mortal. Seu substituto foi o construtor José Cocco, que chegou ao término da obra.


No mês de junho de 1941, Dom Luiz Scortegangna, então Bispo Diocesano do Espírito Santo, rezou a primeira missa na matriz ainda em construção e benzeu a pedra inicial do Altar-Mor. Paraninfaram as cerimônias inaugurais: Elpídio Volpini e Senhora, Nair Lopes de Rezende, Pedro Cuevas Junior e Senhora,
estes representados por Mario Casotti e Senhora.

Em julho de 1943, Elpídio Volpini, João Secchin Junior e Dirceu Alves de Medeiros passaram a integrar
a Comissão. Construção dispendiosa, que só conseguiu ir avante graças à coleta de inúmeros donativos e do dinheiro arrecadado à custa de várias rifas e leilões, promovidos com prendas ofertadas generosamente pelo povo.

No final da construção, ficaram registradas estas doações: Serviço completo de Alto-falantes, oferta
de José Cola e Família; a Senhora Lofego ofereceu o Arago-São Pedro Apóstolo; a Senhora Farid Felix, a imagem Santa Ignêz; Vicente Garambone, a imagem de Nossa Senhora das Graças; Dr. Dalton
Penedo, José Carlos Bustamanto, Branca Martins e Madre Gertrudes de São José ofertaram, confeccionado em bronze dourado, o Sacrário e o Trono.

Vitral retratando passagem onde Jesus caminha sobre as águas e socorre Pedro, que afunda por falta de fé

O foro local ofereceu dois candelabros. Anacleto Ramos e Senhora, ofertaram duas serpentinas em bronze dourado. O crucifixo do Altar-Mor foi ofertado por Mário Casotti. Wilson Rezende presenteou com uma cruz de Procissão. Daniel Alcure, Odete Richa, Odete Carone, Saguia e Filhos, Josefina Barbieri
e Filhos, Julieta Pimenta, ofereceram cálice, âmbula, galhetas, patena, lâmpada do Santíssimo e Missal.
A instituição denominada Obra do Tabernáculo de Cachoeiro, que era dirigida por Nair Rezende confeccionou alfaias e as ofertou. Uma toalha de altar e uma de comunhão foram ofertadas pela zeladora Maria Soares. Nita Soares ofertou toalhas com uma alva de sobrepeliz (vestimenta de linho usada pelos padres sobre a batina). Azulino Semprini e Nívia, sua filha, prestaram uma colaboração generosa e artística: a pintura da abóbada da capela-mor, com alusões ao mistério da Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo.


No dia 20 de junho de 1949, o frei Luiz Atienza inaugurou, festivamente, a Igreja de São Pedro – a igreja matriz da cidade de Cachoeiro de Itapemirim, hoje, na verdade, bastante sem expressão internamente, pois afastaram dali, talvez a título de modernização dos preceitos religiosos, todas as antigas
imagens; modificaram o altar e suprimiram tudo que tinha para mostrar e documentar, indiscutivelmente,
a sua história.

O observador de pássaros, segundo o Wikipédia, é aquela pessoa cuja atividade e boa parte da sua vida consiste na coleta de registros visuais ou auditivos de aves e pode ser realizada não só a olhos nus, mas também por equipamentos que aumentam a capacidade visual do observador, como binóculos, telescópios, câmeras fotográficas…
E permito-me traçar aqui um paralelo virtuoso entre o observador de pássaros e a grande figura humana que foi Manoel Gonçalves Maciel. Personagem sensibilíssima que adotou a nossa cidade como
sua, “seu” Manoelzinho, como era carinhosamente chamado por muitos, inclusive por mim, seu vizinho por longo período e admirador por toda uma vida, sempre guardou perfeita verossimilhança com aqueles naturalistas que citei no início da frase. A não ser por duas prosaicas diferenças: Manoel Gonçalves Maciel, historiador de mãos cheias, era um observador atento não de pássaros, mas da cidade que tomou como sua, Cachoeiro. E o ferramental que utilizava, com grande maestria, era a extraordinária sensibilidade do poeta urbano. Focalizava e retratava Cachoeiro com tal nível de minúcias que só o coração apaixonado e a alma devota poderiam fazer: esquadrinhando minuciosamente cada
bairro, cada rua, cada personagem, cada fato, cada curiosidade próprias da nossa cidade, retratando-os em suas crônicas personalíssimas.
Nota do Editor Renato Magalhães

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