Para os moradores de Cachoeiro, principalmente para aqueles que têm as suas casas ou comércios às margens do rio ou nas suas proximidades mais planas, só de falar em enchente já arrepia os cabelos. Principalmente se as cheias atingirem grandes proporções como, não raro, vêm acontecendo nos últimos tempos e a intervalos cada vez menores.

O Rio Itapemirim faz parte dos grandes referenciais  da cidade, assim como também o são o Itabira, o Frade e a Freira, o Morro do Caramba, a Fábrica de Pios Coelho, Dona Zilma Coelho, os irmãos Newton e Rubens Braga, Raul e Sergio
Sampaio… uma miríade de ativos materiais e imateriais que só de começar a elencá-los já preocupa, pelo simples e elementar sentido de justiça: na certa, vão ficar valores de fora!

Mas voltemos ao Rio e ao momento presente. É nas proximidades da Primavera e do Verão que tradicionalmente o Itapemirim costuma revelar os seus humores menos republicanos, se a licença poética assim nos permite dizer.

No momento em que escrevemos este Artigo, mistura-se ao burburinho do rio em tendência de cheia (até que nível, meu Deus?) a considerável preocupação daqueles a que nos referimos acima: os ribeirinhos que, para os efeitos da enchente, são assim considerados.

E aí é aquela história que já se tornou comum de tanto ser contada e recontada, a cabeça girando sem parar: noites e dias de vigília, um olho no nível do rio e outro na estratégia de fuga em caso de necessidade, a contabilidade psicológica dos passivos materiais e financeiros, os potenciais nomes daqueles que sempre aparecem do nada para dar “aquela força” na hora H… Tudo se torna mais do mesmo, num ciclo sem fim. Afinal, gato escaldado em água quente tem medo até de água fria. Ops, acho que troquei alguma coisa aqui.

Agora, vamos para o outro lado da moeda, para aqueles que na hora em que tudo parecia perdido e sem solução, aparecem assim do nada e se tornam santos em nossas vidas. Aqueles que de noite ou de dia, quando a coisa arrocha de verdade, chegam junto da gente e dos nossos problemas como enviados de Deus: “precisam de uma forcinha aí? posso ser útil? aqui, trouxe umas mudinhas de roupa e uns agasalhos que podem quebrar um galho se a coisa apertar; estou com uma caminhonete ou um caminhão aí fora, no que posso ajudar? tenho um cômodo vazio lá em casa e a gente “poderia juntar as trouxas; trouxe aqui uns quilinhos de alimento”… por aí a fora.

É verdade, essas coisas acontecem com muita intensidade, são providenciais e complementares ao auxílio do poder público, e raramente viram notícia.

Nessas horas a gente acha que aquela máxima consagrada é mesmo verdadeira: o que vende jornal é desgraça! Sim, porque aqui com os meus botões e do ponto da estrada que já percorri na vida, penso que dos 100% que se divulga sobre enchentes e outras calamidades, acho que não mais do que 15 a 20%, se muito, se reserva de espaço para valorizar as ações humanas de grande valor e valia. Infelizmente…

Mas a vida segue o seu ciclo, na marcha dos pontos e dos contra pontos, e vamos nos valer aqui da prerrogativa de todos que moram em Cachoeiro: dobrar nossos joelhos, pedir a São Pedro – padroeiro da cidade e que controla as torneiras lá do céu – e pedir que ele alivie a mão e, pelo menos dessa vez, mande água suficiente apenas para irrigar as nossas lavouras e recuperar os níveis dos reservatórios de água, que no momento estão muito baixos e ameaçam seriamente a geração de energia.

Pois é São Pedro, como já dizia o folclórico e saudoso Miúdo, da Rua Moreira, quando já estava meio avançado na birita e alguém maldoso oferecia-se para pagar mais uma dose, “só para quebrar a moringa”: “quero não moço, dessa vez eu dispenso, porque água demais mata a planta…”

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