REVISITANDO O CACHOEIRO ANTIGO

No dia 9 de dezembro de 1921 a Estrada de Ferro Itapemirim, publicou que estava aceitando propostas para o fornecimento de 8.000 dormentes, para entrega mensais de 700 unidades.

As madeiras consideradas pela Estrada eram as seguintes: “Angelina Pedra, Arapoca Amarela ou Guarataia, Arco de Pipa, Bálsamo ou Óleo Vermelho, Brasil ou Pau Brasil, Braúna Parda, Graúna Parda, Graúna Preta, Cabiúna, Caboclo ou Ipê Rosa, Canela Capitão Mor ou Canela-Puante, Canela Prego, Canela Preta, Carobuçu ou Ipê Turumã, Funcho Preto, Gibatão Vermelho ou Ubatão Vermelho, Ipê Preto ou Ipê Una, Ipê Tabaco, Itapicuru Amarelo ou Guarabu Amarelo, Jacarandá Rosa, Jacarandá Roxo, Jacarandatã, Jataí Roxo ou Jatomá Roxo ou Jataí Peba, Narindiba Ipê, Pau Ferro, Peroba Rosa ou Sobro, Roxinho Ouro Roxo Preto (excluindo o Guarubu ou Roxinho Claro), Sapucaia, Sapucaia Vermelho ou Inhoíba de Rego, Sobrasil, Sucupira Preta, Sucupira Amarela, Tapinhoã, Urucurana Roxa, Urundeúva ou Aroeira do Sertão, Apraiú ou Paraju Roxo ou Massaranduba Rosa, Araribá Rosa, Folha Larga ou Mangalô, Garapa Amarela, Peroba Amarela, Orelha d’onça.”

Madeiras de alta qualidade eram utilizadas para fazer dormentes. Certos nomes nem são encontrados em nossos dicionários. Que riqueza as nossas matas! Árvores seculares que ostentavam incalculável valor em madeiras de lei e espécies variadíssimas. É lamentável dizer, entretanto, que o patrimônio florestal do município, em pouco mais de um século, foi esbanjado perdulariamente com derrubadas indiscriminadas, trazendo reflexo ao regime das águas e à qualidade as terras.

Muitas dessas madeiras, que as Estradas de Ferro usavam para dormentes, não mais existem no município e nunca mais serão encontradas. O reflorestamento e a proteção das matinhas que restam, não têm sido apontado com atenção. O município não promove a guarda e a fiscalização do que ainda resta do seu patrimônio florestal, patrimônio que nos veio de épocas remotas, inteiramente de graça. Ainda bem que as locomotivas de hoje não são como as de antigamente, em vez de lenha queimam óleo diesel. Mesmo assim, dentro de mais alguns anos, teremos um solo pelado e sovado, e, quem sabe, mais adiante, nos séculos vindouros, um município com o sol esturricando a terra. E faz pena se ver, como há poucos dias, o fogo devorando uma parte da matinha, a única que ainda se avista do centro da cidade, que ninguém sabe desde quando,       mas há de ser de época anterior a esta geração, contempla o rio Itapemirim lá do alto do morro, onde estão as repetidoras de TV. É um cenário que vem do Cachoeiro antigo e vai-se acabando aos pouco. A natureza sempre foi pródiga em acumular riquezas e trabalhou milênios para construir tudo que o homem está destruindo.                      

“Uma cidade que não constrói sua memória, não pode ter identidade própria”.

Professor e Historiador Manoel Gonçalves Maciel

Crédito ao Autor, Professor e Historiador Manoel Gonçalves Maciel.
Publicado originalmente em seu antológico livro ”Voltando ao Cachoeiro Antigo”, volume II, 1ª edição, páginas 119 e 120. Garimpamos e publicamos essa matéria na Você+ Digital por autorização especial da sua filha Dra. Margareth.

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